5 de março de 2017

visita

entra,
fecha a porta, mas não bate porque assusta o vizinho
ele é bebê e a essa hora da madrugada o sono é raro
escuto todas as noites o choro insone
e o cheiro de café

senta,
encosta tua perna na minha com certa distância
pra que eu sinta tua intenção e teu respeito
se aproxima devagar
deixa eu sentir teu cheiro daqui do outro lado
te desejar em silêncio

acende o cigarro no meu,
qualquer toque atiça minha libido
que agora pulsa em direção aos teus olhos
azuis como o céu de fim de tarde

inventa qualquer mentira que me faça rir
percebe os defeitos do meu rosto
me deixa sem reação quando fala do teu niilismo mentiroso
te desejo cada vez mais

deita,
minha cama é teu ninho agora
passa a mão nos meus cabelos curtos
eu cheiro os teus cabelos enormes
presos numa liga laranja

encosta todo teu corpo no meu
pedaço por pedaço
queixo
tórax
umbigo
pau
coxas
pés
mistura teu suor com o meu
o cheiro do nosso prazer

nina
me adormece com teus dedos compridos
passeando pela minha testa
assopra meus cílios pra ver o movimentos deles com teu vento

fica,
mas só até amanhecer
depois pega tuas roupas
teus traços
teu silêncio
e leva embora
me deixa a lembrança,
a saudade
o desejo
e morre.

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