17 de janeiro de 2015

as vantagens do presente

há algum tempo fiquei solteira. engraçado o quanto essa frase pode soar desimportante. mas às vezes não. às vezes, não mesmo. vejo outros casais se desfazendo por aí e sempre penso no quão difícil pode ser se desligar de uma pessoa tão próxima e tão boa e que parece ter sido feita pra gente. mas dessa vez foi diferente, talvez por ter sido definitivo- definitivo mesmo, não como nas outras vezes em que  gritamos “dessa vez é pra sempre” a cada discussão. terminamos o namoro (sempre imagino um dramão quando escuto isso) de forma sóbria e justa. justa porque não era o que estava sendo aquela relação perfeita e estável. de repente, resolvi me livrar de tudo que me fazia bem. Pra me aventurar com o desconhecido e, principalmente, me aventurar comigo mesma.

mas o que quero dizer é que as relações, todas elas, são o que me dão força pra viver. eu deveria achar uma profissão que mexesse com isso. deve ser por isso que me interesso tanto por sociologia (a urbana é incrível). o comportamento humano é fascinante! não me canso de dizer isso. E como admiradora e observadora de pessoas e suas relações, não é por acaso que também são meu ponto fraco. nasci com um aliado: meu signo. não, eu não acredito em horóscopo, mas gosto de ser canceriana. segundo sei lá quem, tem  características com as quais me identifico muito e respeito também. também não ligo pra quem acredita, tenho um monte de amigas esotéricas que ligam tudo automaticamente à astrologia e eu na realidade acho isso mó legal. olha só no que a mente da gente pode nos levar a crer! crença é uma parada forte.

Mas o que eu quero dizer mesmo é que, como uma exímia canceriana, eu vivo apaixonada. tô sempre com algum carinha na cabeça, e muitas vezes nem sou recompensada. e na verdade, eu nem ligo muito pra isso. tá, só em alguns casos. mas como fiquei solteira depois de uns bons anos namorando (seis e uns quebrados), tenho redescoberto algumas façanhas da paquera, do dar e não dar certo, da paixão avassaladora que some em horas, da decepção previsível que dói por semanas e depois some junto com a paixão.

por algum tempo fiquei perdida, achando que qualquer cara que conhecesse pudesse ser o meu próximo namorado. imaginava a gente fazendo aquela viagem de carro até a bahia que sempre quis tanto fazer. queria conhecer alguém pra levar pra belém e mostrar todas as pequenas coisas maravilhosas que têm naquela cidade. mas aí depois chegou o tempo em que eu achei que ninguém pudesse ser meu próximo namorado. cada cara que conhecia já pisava na bola (até mesmo sem perceber) logo cedo, e aí eu já enchia o saco. mas aí percebi que tava começando a desacreditar no amor.

hoje eu não sei que fase estou, mas sei que não me encaixo em nenhuma das anteriores. talvez quando eu descobrir conte pra você de novo. mas é que agora eu não sei mesmo, acho que não tô sem opinião sobre esse quesito da minha vida, sabe? pois é.

mas e aí, como uma curiosa canceriana, começo a atentar aos pequenos detalhes dos pequenos momentos. sim, porque quando a gente tá solteiro a gente tem a sorte de ter um montão de pequenos momentos. e aí é legal, porque você aproveita rapidinho o que vai acabar, aí você fica um pouquinho mais feliz, coisa besta, e aí tá pronto pra outra. que pode ser boa ou não, também faz parte. e eu não tô falando de transa não, tô falando de cada momentinho mesmo. é aí que finalmente chego onde queria chegar. os pequenos detalhes, aqueles que aguçam alguma coisa aqui dentro.

-tenho pensado no quanto gosto de pequenos detalhes. gosto de olhar aquele colar que o cara usava, só porque toda vez que vejo ele numa foto usando aquela coisa meio indígena, lembro que naquela noite eu viajei pra caramba olhando aquele colar. e o quanto ele combinava com o tom da sua pele.

-gosto de quando você vira pro lado direito, porque tem um sinal perto da sua barba e ele é bem bonitinho. também fica perto da sua covinha, que só tem no lado direito, que dá mais charme ao charme que covinhas naturalmente têm.

-às vezes rio sozinha do seu sotaque, que deixa com que algumas palavras saiam muito engraçadas da sua boca. e você ri enquanto fala! tem coisa mais apaixonante do que gente que ri enquanto fala? tem não!

-você é um pouco mais alto que eu, né não? acho que é sim, porque lembro de gostar da sua altura. eu não gosto de caras muito altos, mas também acho estranho pegar um cara do meu tamanho, sei lá, coisa de doido. mas eu lembro que você tem uma altura perfeita. sei disso porque quando eu te abraçava rapidinho (naqueles inusitados encontros no metrô) meu nariz ficava na direção do seu pescoço e eu sentia o seu perfume meio amadeirado.

-e várias outras coisas. tipo a cara que você faz quando dança. acha que tá arrasando, mas tá péssimo. tá sempre péssimo, você é desengonçado dançando. mas é legal ver você curtindo um som, e aí dá vontade de dançar junto.

e aí, quando lembro dessas coisas, penso no que é meu que pode ter ficado em alguém, como o de cada pessoa que passa pela minha vida fica. pode ser presunção achar que deixo algo na vida de todas as pessoas que me envolvo de alguma forma. mas também é pessimismo demais consigo achar que não. então, penso no quantos pequenas paixões como essas ainda me restam ter e no quantos grandes momentinhos como esses tenho de viver e proporcionar a pessoas legais por aí.

um viva aos pequenos grandes momentos, às grande pequenas paixões e à vida.

eu provavelmente não vou ler esse texto nunca mais, então, não levem a sério. é só uma conversa comigo mesma.