7 de abril de 2016

se o caso é chorar

o efêmero não foi feito pra mim.

tudo bem que a gente vive em 2016, as coisas acontecem com uma rapidez quase inacreditável e a fluidez da internet tomou conta dos acontecimentos da vida da gente. os dias correm, você acorda pra ir trabalhar e do nada já tá no trânsito de volta pra casa. ontem tomei banho de ervas para receber o ano que se iniciava e já tô pensando no que vou fazer no natal. tá, tudo bem que o mundo hoje em dia é assim,  mas olha, esse negócio de efemeridade definitivamente não foi feito pra mim.  quer dizer, eu acho. se bem que "definitivamente" e "eu acho" são meio antagônicos. mas que não é?

como boa canceriana - sempre atribuo essa sensibilidade aflorada ao meu signo, até o dia em que compreender de fato o que é isso - tenho uma espécie de dom de caçar caraminholas dentro da cabeça. tudo é motivo: trânsito parado, cigarro no meio do expediente, passeio com cachorro. já vi uns memes na internet e percebi que não é só comigo que isso acontece (ufa!), mas o que importa é essa capacidade maluca que minha mente ansiosa tem de me levar a universos absurdos em questão de segundos. às vezes vou pra frente, às vezes vou pra trás.

--
penso em você todo dia. é sério, todo santo dia você me vem à cabeça em algum momento. sabe, quando eu volto do trabalho, passo por uma rua perto da sua casa. é só perto e eu nem sei onde você mora direito. mas passo de ônibus e fico te procurando, como se fosse possível  te ver andando de volta pra casa numa dessas passagens. como se algo fosse acontecer caso eu te visse. mas eu te procuro. todos os dias. me diz se tem coisa mais idiota do que isso! tem meses que você sumiu e me mandou pastar, mas ainda fico rindo sozinha de memes na internet e penso que você riria junto. queria te mandar um oi, ouvir tua voz, não lembro mais como ela é. achei uma foto sua no meu celular. era a única lembrança que tinha, de quando você cortou o bigode e ficou parecido com o wagner moura em "narcos", lembra? instantes depois me roubaram o telefone. me roubaram a única coisa que me sobrou de você. agora tenho que ficar procurando evidências de você em mim. ainda me resta tame impala, que a gente ouviu junto por uns bons meses. mas nem isso tá adiantando. você tá escorrendo pelo ralo, virou areia na minha mão, o tempo tá te levando. olha, esse negócio de efemeridade definitivamente não foi feito pra mim.
quer dizer, eu acho.

--
me assusto com a quantidade de pensamentos que passeiam pela minha cabeça. de manhã, quero morrer. é certo que os piores desejos me ocorrem pela manhã. o desapego do que deveria ser cuidado, a nostalgia do que não existe, a vontade de viajar e não poder, a saudade da casa que não é mais minha, a ânsia pelo colo que nunca tive. tomo café pra acordar.

de tarde me acalmo. quero sombra. a sobriedade da rotina. a certeza de voltar pra casa, a casa que é minha. o sol caindo deixa o coração bater mais devagar. a música muda. a dor virou felicidade. penso no futuro, esqueço o passado. hora de fazer piada com a vida comum. o clima é ameno e a alma também.

à noite escureço.a euforia do luar toma conta do meu coração. quero sair. beber.canto alto. logo passa. quero deitar. colo de mãe. colo de namorado. colo de amiga. não tem nada mais valioso do que o aconchego do cheiro de ovo frito. a vida dá uma reviravolta. de dento de casa, sinto falta de casa, a casa que não é minha. saudade do que não existiu. ansiedade pelo que não virá. amanhã será um novo dia, um dia melhor. mentira. olha, esse negócio de efemeridade definitivamente não foi feito pra mim.
quer dizer, eu acho.