22 de fevereiro de 2018

sobrenados

sou feita do vento
passo levando comigo o que posso
o que é leve
o que é pesado também
mas acima de tudo, o que quiser
e o que consigo carregar com meu tamanho miúdo
e força gigante
voam pessoas, voam instantes, voam histórias
tudo está pra cima
e a culpa é minha,
feita de vento
ninguém pega, sequer vê
só sente
os mais atentos cheiram
transparência invasiva
liberdade abrasiva

mas também sou feita de água
tenho em mim todos os oceanos e mais alguns
os desconhecidos,
inconogscíveis
ora pacífica, silenciosa
afago
ora agitada, assustadora
afogo
encontro em mim o movimento presente
a inconstância precisa
a certeza trêmula
meu corpo dança minha música
a onda
a calmaria
se vê, se cheira, se sente
mas não fica
flui, transforma
escoam minhas gotas por espaços impossíveis
pois eles não existem


sou matéria
apresentada a mim mesma como isto
pedaço de carne envolta por pele branca
coração pulsante
dilacerado, lancinante
tenho pés, dois
mãos, duas
minha composição me leva
um barco riscado
detalhes coloridos
pêndula
navego por meus mares
guiada por meus ventos
abarco-me em terra sagrada
habito lugares impossíveis de mim mesma
pois eles não existem

trago comigo
levo comigo
quem quiser
quem meu corpo miúdo sustenta
quem meu coração aporta
quem meu barco afaga
quem em minha maresia flutua









Nenhum comentário: