1 de fevereiro de 2018

larva-migrans

um bicho insolente caminha pelos meus pés
de tantos pés no mundo, justo o meu
escolheu minhas entranhas pra fazer morada
agora tá aqui, caminhando com força pelo que antes era apenas veia

me faz coçar
chorar
espernear
gritar

como se seu caminho pelos meus pés fosse assim, simples
como se conhecesse pra onde tá indo

olho seu trajeto e me pergunto
como pode tanta audácia?
caminhar pelo meu corpo como se já me conhecesse!

e a noite chega
o desespero chega
o calor chega
me coço com faca amolada
corto com metal fino a pele que me aflige

o bicho que me permeia transforma em incômodo o que era veia
não vejo solução
sufoco-o com água gelada
bicho assim teimoso procura temperatura alta
calor de amor, suor de prazer

afogo com o gelo de minha coragem
o pequeno animalzinho que me causa tanta dor
o intruso que não tem rosto me invade
começando pelo pé
sua geografia é maior que a minha
sinto inveja de um parasita
out talvez a parasita seja eu
que por preguiça ou talvez medo
não crie minha própria geografia em outros pés



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