10 de novembro de 2017

uva com semente


hoje eu acordei de madrugada pra ver o sol nascer. eram quase seis da manhã quando os primeiros rainhos amarelos rasgavam a escuridão da noite e anunciavam que atrás deles, poucos minutos depois, viria a invasão laranja que toma conta do céu quando no meu relógio marcam seis e vinte e três. gosto de assistir a coisas nascendo. gente, bicho, dia, amor, noite, idéia, planta, amizade, chuva, sentimento. se de repente a gente conseguisse prever quando as coisas vão nascer ou morrer talvez eu não tivesse essa coisa. mas o desconhecido é lindo. eu fico aqui querendo me embebedar do que não conheço, querendo ser preenchida pelo que não tem forma. deve ser por isso que eu gosto tanto do vento. abro a boca e deixo um bocado de nada entrar na minha boca e passear entre meus órgãos e virar outra coisa. abro as mãos e deixo o vento fazer coceirinha entre meus dedos e forçar eles pra trás enquanto empurro pra frente só pra contrariar, como se estivéssemos brincando. fecho os olhos e escuto o barulho que faz quando passa pelo meu ouvido e quase fico surda, mas quando os abro os olhos não tem nada. a cor do mundo quando eu abro os olhos depois de meditar é parecida com a cor do céu da minha janela quando o relógio marca quase seis da manhã e eu acordo pra ver o nascer do sol.

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