9 de setembro de 2016

Sonhei com você e foi tão triste.

Éramos vizinhos. Eu morava numa casa branca com uma amiga, no nosso quintal suspenso haviam rosas vermelhas e muitas outras plantas. Também tinha um banquinho de madeira maciça feito à mão pela minha mãe, onde eu gostava de sentar e fumar um cigarro. Ao meu lado havia você. Você e sua esposa. Moravam numa casa amarela que ficava parede com parde com a minha branquinha. Na sua varanda cercada por um ferro preto com arabescos provençais tinha um vaso de flores rosinhas, parecidas com as que tatutei no ombro. Sonhei com você e foi tão triste. No sonho eu estava, como de costume, fumando um cigarro antes de dormir, me tremendo de frio e balançando os pés no ritmo de alguma música que não lembro qual era. Devia ser Los Hermanos, vi o documentário deles hoje. Olhei pro lado e vi sua mulher. Linda, vestindo apenas uma calcinha e regata brancas. Ela não sentia frio. Logo apareceu você, sem camisa, vestindo uma samba canção desbotada. Você acendeu um cigarro. E você nem fuma! Deviam ter acabado de trepar, todo mundo sabe que não tem coisa melhor do que fumar um cigarro depois de trepar. Fiquei lá. Não fugi de vê-lo, como de costume. Fiquei assistindo vocês conversarem como quem assiste a um pedaço de série já vista, com interesse e desdém ao mesmo tempo. E de repente você me olhou através dela. Nossos olhos se cruzaram rapida e profundamente e você fugiu, como de costume. Sonhei com você e foi tão triste. Acordei assustada e quis logo escrever. Tenho escrito muito esses dias. Tudo que me vem à cabeça vira texto. Vira filme. Vira sonho. Agora me esforço pra lembrar o que sonhei de tão triste na medida em que me esforço também pra lembrar como eram seus olhos e sua voz e seu rosto. Eu esqueci tudo. Como de costume.

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