3 de novembro de 2015

tempo rei



Ei, você aí na minha frente. Você que sem perceber consegue me tirar o chão assim, em segundos. E na mesma velocidade, parece correr e me devolver a calma que tinha roubado instantes atrás. Você que desperta uma enxurrada de coisa boa dentro de mim que eu nem sabia que tinha mais. Você apareceu assim, de repente. Um grão quase invisível de gente. O tempo é um cara danado. Fez questão de me mostrar que é sua maior capacidade é mudar as coisas. Me fez perceber que eu podia ir bem além do que esperava. Todo esse negócio de ser sozinho te coloca provas que o coração duvida, a cabeça titubeia e os pés parecem andar em círculos. E aí você se fecha feito uma concha, escolhe se privar de viver e só vai ter essa chance quem for curioso o suficiente pra saber o que tem dentro. E tem toda aquela pressão social de se achar alguém que te tire o chão, te faça suspirar e a porra toda.

Não, eu não quero alguém assim. 

O tempo foi meu amigo e me fez o favor de me mostrar que o que importa mesmo é alguém não especial. E você é uma pessoa dessas não especiais. Você não me mexeu comigo no primeiro instante, não existe isso de paixão à primeira vista. Eu fiz questão de dar um passo de cada vez, percebendo cada traço, cada músculo. A cada dia eu olhava uma coisa nova.

Andei pra frente olhando pro lado sem saber o que me esperava. Dei de cara na parede. Mas fui em frente. Escolhi me testar. Escolhi te testar. Passamos no teste. Teu suor escorregou no meu corpo como escorrego em minhas certezas cada vez que te vejo. Como a intimidade que não precisamos criar, que já veio junto. 

Você que não é nada especial e que não me fez suspirar de amor, você que é meu mesmo sendo de outra pessoa, você que não faz ideia, mas conseguiu esticar um pouquinho a cabeça e ver o que tem dentro da concha, ainda que não entenda o que quer ver. Minha vontade é te puxar pelo cabelo e te trazer pra dentro comigo. Eu poderia segurar na mão do mesmo tempo que te trouxe e esperar que ele te leve. Mas eu não quero. É que tudo some quando você tá perto, entende? E eu não quero ver nada, eu quero ver você.

Meu coração virou mar. Às vezes fica calmo, sereno e brando. Outrora toma certa força que não sei da onde vem e transborda pelos poros. E eu tenho medo de mar. E você, você aí na minha frente, você que não é especial, tá no meio desse desbunde, como um maestro que rege a melodia do concerto. E de repente aprendi a nadar. Agora atravesso, chego ao outro lado e te espero como um cachorro espera o dono todo fim do dia. Te espero sem saber como você vai chegar. Não sei se vem inteiro, se vem cansado, sequer sei se você vem.  

Mas se vier, sê meu. Sê meu como já fomos e já somos um do outro, ainda que só dentro da concha.


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