20 de maio de 2013

olhos nos olhos

Desde que fiquei desempregada, as coisas mudaram muito pra mim. Hoje completa um ano que não sou contratada em lugar nenhum. E o último que saí, fui demitida. Duas coisas muito ruins pra quem gosta de uma correria básica. Sou uma pessoa muito agitada, que gosta de estar nos lugares, fazendo coisas, então, desde que saí do meu último emprego, passei por todas as fases que uma pessoa pode passar. Da pior a melhor. Quer dizer, é claro que tem coisas muito piores, gente que fica anos em anos sem fazer nada, entra em depressões sem fim, etc. Deus queira que isso nunca, nunquinha aconteça comigo, sério.

Mas o que queria compartilhar aqui foram as coisas difíceis pelas quais passei e escolhi passar. E também gostaria de falar das boas, essas sim, sem comparação com qualquer outra vitória na vida. Se alguém realmente lê isso aqui, acredite: não há vitória maior do que a vitória pessoal, aquela que acontece dentro da gente e que só a gente sente. Sei que ainda me faltam muitas quedas na vida, mas hoje, olho com orgulho para a pessoa que fui há um ano atrás. Olho de alguns degraus acima. E isso, minha gente, não tem preço.

Deixemos de enrolação e vamos ao grande drama. Voltei de viagem e me deparei com uma realidade que até então não conhecia: o desemprego, a falta de dinheiro, a falta do que fazer. No início as coisas são bem legais, você acompanha todos os programas da globo, assiste a todas as suas séries favoritas e sai com os amigos todo dia. Depois de (pouco) tempo, essas três únicas coisas que você tem pra fazer, te deixam fora do eixo. Eu comecei a ver programas demais, ver séries demais, comer demais, dormir demais, sair demais com os amigos. Ter amigos demais. Esse foi um erro do qual não me perdôo.

As festas ficam mais legais porque significam toda essa bagunça que fui, aos poucos, construindo, reunida. Música alta, amigos bêbados, gente maluca, alegria e..mais nada. Comecei a ficar louca. Tudo aquilo começou a me assustar. Era como se eu visse meus próprios amigos vestidos como monstros, me puxando a cada oportunidade mais pro fundo do mar. E eu não sei nadar. Quando se olha pro lado e só vê a silhueta das pessoas (digo, elas estão lá, mas não estão de verdade), você se desespera e corre pra quem você não queria, mas devia: a família. Pedi ajuda pro meu pai, já magra e com olhos fundos e inchados de tanto chorar. Meu pai é uma figura muito estranha em minha vida. Poderia resumir ele em três palavras: Não; Medo; Tudo. Pois o cara envolto por uma armadura infinita, se despiu, me olhou nos olhos e me abrigou. Me deu ajuda, me deu colo, me deu uma mão, me deu um abraço. E me olhou com respeito, como sempre o fez. Meu pai sempre me respeitou e me admirou muito. E essas duas coisas foram o que salvou a nossa relação. Nos admiramos demais.

Olhando esse texto, é como se eu fosse uma drogada que vendeu tudo pra suprir o vício. Quando na verdade, todo esse tormento aconteceu dentro de mim. Eu havia me tornado  minha pior inimiga. Não tinha mais meu próprio colo, meu próprio aconchego. Eu não me reconhecia, não me admirava como meu pai fazia.

Comecei a fazer tratamento psicológico.

Quem puder, eu recomendo. Não vá pra resolver uma pendência (quer dizer, vá, mas não só por isso), nem pra procurar respostas que você não consegue se dar. No fundo, o que a Psicóloga faz é te dar um espelho. Aos poucos você vai se achando, se entendendo, se compreendendo, se aceitando, respeitando seus limites internos e externos.

Passo a passo, as coisas foram mudando de rumo. Meu tom de voz em poucas sessões. Eu gesticulo menos. Rio mais. Dou gargalhadas!

Hoje, ainda choro. E choro muito. Muitos dos meus maiores medos não foram enfrentados, e nem quero que isso aconteça ainda. Mas aprendi uma coisa muito, mas muito importante: como lidar comigo mesma. Eu tinha pavor de ficar sozinha, ouvia coisas, via pessoas, sentia calafrios. Agora não há coisa melhor do mundo do que ficar aqui, no meu cantinho ouvindo meu silêncio e conversando comigo mesma. Há quem diga que isso sim, é estar no fundo do poço. Pois quem diz isso é um tremendo burro. Burro por não enxergar que é dentro de nossas minúcias que tá o que a gente realmente quer mostrar pro mundo. Não nos apeguemos a um grupo de amigos que são unidos o suficiente pra formar uma família (ou quase isso). No fim das contas a gente entende a REAL diferença entre melhores amigos e família.

Ainda fico triste. Quase todo dia me dá vontade de chorar, de xingar, de quebrar tudo, de pegar uma mudinha de roupa e sumir por alguns dias. Só que antes eu faria isso com alguns amigos, com outro propósito. Hoje, se tivesse coragem de cometer tamanha loucura, seria sozinha. Porque eu aprendi a me curtir mais do que qualquer outra pessoa.

E é daqui de cima, de poucos, mas bons degraus acima de onde eu estava há um ano atrás, que consigo olhar adiante e ver um pouquinho além. Não tenho medo de cair de onde estou. Tenho um verdadeiro pavor de regredir tudo que consegui galgar sozinha. É o que mais me amedronta. Mas tenho certeza que se um dia eu fraquejar outra vez, serei muito mais honesta comigo mesma.

Nesse caminho curto, devo meus aprendizados ao meu pai, por ser o melhor anti herói do universo; à minha mãe, por me mostrar que eu jamais poderei contar com ela; aos meus amigos, que me decepcionaram constantemente, sem isso eu não teria olhos pra ver como a vida é de verdade; a mim mesma, que levei tudo isso na cara sem surtar, sem me matar, sem perder a cabeça.



2 comentários:

l. disse...

muito bem colocado, minha amiga. só te pontuo na diferença que comigo, já cheguei no ponto de perceber não só como posso e não posso contar com os outros e da decepção constante que eles me fazem passar e sim pontuo exatamente onde conto comigo, não conto e onde decepciono constantemente as outras pessoas com as minhas ações e consequentemente me decepcionando comigo mesma e seguindo em frente.
Olhar pra mim mesma foi das coisas mais difíceis que faço até hoje e estou exatamente neste exercício.
um beijo e muito cuidado, porque se a gente deixar a vida se transforma numa patética decepção e vamo lá, nem tudo é bem isso.

Vereneura disse...

Cara, eu te entendo muito! E sei exatamente do que estás falando. Muito bom se achar! :)