Ei, você aí na minha frente. Você que sem perceber consegue
me tirar o chão assim, em segundos. E na mesma velocidade, parece correr e me
devolver a calma que tinha roubado instantes atrás. Você que desperta uma
enxurrada de coisa boa dentro de mim que eu nem sabia que tinha mais. Você
apareceu assim, de repente. Um grão quase invisível de gente. O tempo é um cara
danado. Fez questão de me mostrar que é sua maior capacidade é mudar as
coisas. Me fez perceber que eu podia ir bem além do que esperava. Todo esse
negócio de ser sozinho te coloca provas que o coração duvida, a cabeça titubeia
e os pés parecem andar em círculos. E aí você se fecha feito uma concha,
escolhe se privar de viver e só vai ter essa chance quem for curioso o
suficiente pra saber o que tem dentro. E tem toda aquela pressão social de se
achar alguém que te tire o chão, te faça suspirar e a porra toda.
Não, eu não
quero alguém assim.
O tempo foi meu amigo e me fez o favor de me mostrar que o
que importa mesmo é alguém não especial. E você é uma pessoa dessas não especiais.
Você não me mexeu comigo no primeiro instante, não existe isso de paixão à
primeira vista. Eu fiz questão de dar um passo de cada vez, percebendo cada
traço, cada músculo. A cada dia eu olhava uma coisa nova.
Andei pra frente olhando pro lado sem saber o que me
esperava. Dei de cara na parede. Mas fui em frente. Escolhi me testar. Escolhi te testar. Passamos
no teste. Teu suor escorregou no meu corpo como escorrego em minhas certezas
cada vez que te vejo. Como a intimidade que não precisamos criar, que já veio junto.
Você que não é nada especial e que não me fez suspirar de
amor, você que é meu mesmo sendo de outra pessoa, você que não faz ideia, mas
conseguiu esticar um pouquinho a cabeça e ver o que tem dentro da concha, ainda
que não entenda o que quer ver. Minha vontade é te puxar pelo cabelo e te
trazer pra dentro comigo. Eu poderia segurar na mão do mesmo tempo que te
trouxe e esperar que ele te leve. Mas eu não quero. É que tudo some quando você
tá perto, entende? E eu não quero ver nada, eu quero ver você.
Meu coração virou mar. Às vezes fica calmo, sereno e brando.
Outrora toma certa força que não sei da onde vem e transborda pelos poros. E eu tenho
medo de mar. E você, você aí na minha frente, você que não é especial, tá no
meio desse desbunde, como um maestro que rege a melodia do concerto. E de
repente aprendi a nadar. Agora atravesso, chego ao outro lado e te espero como um cachorro espera o dono todo fim do dia. Te espero sem saber como você vai chegar. Não sei se vem inteiro, se vem cansado, sequer sei se você vem.
Mas se vier, sê meu. Sê meu como já fomos e já somos um do outro, ainda que só dentro da concha.
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